Em minha vida tenho dois trabalhos centrais. O primeiro, que é minha profissão, educador. Como tal tenho me preocupado sempre em criar modelos educativos para preparar uma nova geração a confrontar-se com os dilemas da época. Criar um processo educativo no qual o sujeito saia com uma visão crítica do mundo e possa analisá-lo e tomar seu próprio caminho, a nível pessoal e a nível social-político. O segundo trabalho, e este é voluntário, é o meu ativismo político.

Acredito na paz, acredito na bondade humana, acredito no amor como sentimento que leva a reconciliação entre as pessoas e os povos. Acredito que vivemos num mundo muito melhor que há 200 anos, muito menos violento, no qual bater, abusar emocionalmente e fisicamente de crianças e mulheres é proibido pela lei em, pelo menos, metade do globo terrestre. Acredito que estamos mirando um mundo que não conhecemos e não entendemos. Homo Sapiens que se transformarão em homo biônicos. Mundo em que o trabalho será secundário e ainda não temos ideia do que virá em seu lugar e como acharemos conteúdo para ocupar este espaço temporal que se tornará vazio. Mundo em que o sexo não determina a sexualidade da pessoa. Onde famílias e casais normativos deixarão espaço a famílias de casais heterossexuais e homossexuais, famílias uniparentais. Mundo em que a economia não será marxista ou capitalista, e assim como deixamos atrás o feudalismo e mercantilismo, deixaremos atrás estas visões econômicas.

Mundo em que a energia não será mais carbonizada com alto custo e sim energia verde praticamente gratuita. Mundo de robôs e impressoras tridimensionais. Mundo que não conhecemos, mas que ao contrário daquele ser humano que vivia em 1899 e não tinha ideia do que aconteceria 5 anos adiante, nós sim temos ideia de que entramos num mundo totalmente diferente do que conhecemos. A conscientização que estamos entrando num período que não sabemos como será, assusta, amedronta. Principalmente aqueles que estão no poder, que sentem que o poder lhes está escapando por entre as mãos.

Para descrever este período poderia usar uma metáfora. Imagine que estamos subindo uma montanha, sem saber e sem poder saber o que nos espera do outro lado. Nesta subida carregamos uma mochila cheia de instrumentos, que não sabemos se servirão ou não para nossa existência do outro lado da montanha. Conosco, estão crianças e jovens que temos de preparar para o “outro lado”. Como preparar essas novas gerações para enfrentar o desconhecido e os dilemas a surgir e que nós, a geração de educadores, nunca nos confrontamos com eles?

A solução é o desenvolvimento de um processo educativo que leve a criança e o jovem a ter consciência de si, da relação com o outro, da integração à natureza, conectado de forma holística com seu SER sensorial, emocional, racional e espiritual, desenvolvendo uma visão consciente e crítica do mundo, podendo analisá-lo e tendo a capacidade de seguir seu próprio caminho nos diversos níveis de sua vida com uma estrutura emocional e espiritual para confrontar-se com amor à vida, sem medo, com o desconhecido.

Mas este medo cria um vetor negativo com o objetivo de reter, brecar, paralisar o processo, para voltar atrás. Uma âncora para não deixar o barco seguir seu rumo, da evolução da humanidade. Este vetor é o período em que vivemos. Vemos em vários países democráticos forças reacionárias, carregando a bandeira do conservadorismo, do racismo, da homofobia e xenofobia. Forças da obscuridade. Forças do medo. Forças que se apegam ao problema em vez de abraçar a solução.

O que significa fazer parte do problema ou parte da solução?

Fazer parte do problema significa relacionar-se com o medo, com o passado, com a narrativa dogmática de sua história. Fazer parte do problema significa desenvolver uma educação baseada na ideologia do medo, na ignorância, gerando o ódio. Fazer parte do problema significa polarizar as ideias, desumanizar o outro, animalizar o outro, deslegitimar o outro. Fazer parte do problema significa criar muros reais e virtuais entre as partes, boicotar, não dialogar. Viver no problema é viver no passado.

Fazer parte da solução significa relacionar-se com amor, com o presente e futuro, sem esquecer do passado, entendendo que existem duas narrativas que tem que ser analisadas num futuro, quando nossos corações não estejam transbordados de sofrimento, medo e ódio. Fazer parte da solução significa criar uma educação de amor à vida, de pensamento crítico, de conhecimento de causa gerando a esperança. Fazer parte da solução significa criar pontes entre as ideias, humanizar o outro, legitimar sua existência. Fazer parte da solução significa destruir muros, cooperar, dialogar. Viver na solução é viver no presente, preparando o futuro.

Vemos em muitos sistemas escolares a mesma doença universal. A fobia ao diferente, ao pensar crítico, ao pluralismo cultural, religioso, étnico e de gênero. Sistema escolar obtuso, doutrinário. Sistema que Paulo Freire chamava de educação bancária. A educação bancária é a prática da Ideologia do medo, transmitindo a informação que convém ao educador, mantendo o educando passivo, ignorante na sua busca do saber, criando o espaço perfeito para desenvolver o ódio e a violência.

Sempre acreditamos que o sentimento contrário ao medo é a coragem. Mas, não. O amor é aquele que se opõe ao medo. A Educação à liberdade, ao amor e amor à vida é aquela que se oporá a Ideologia do medo e a educação bancária, criando um espaço no qual educador e educando passarão um processo de reconciliação consigo mesmo, com o outro e com o mundo, mãe terra.

Pensando nisso reunimos um grupo de educadores e terapeutas de vários países (Israel, Palestina, Portugal, Brasil, Itália) para entender as grandes mudanças que estão ocorrendo no Mundo e como podemos atuar como educadores e terapeutas para combater o ódio, a xenofobia e a violência gerados por um discurso da “ideologia do medo”. Empatia, reconciliação, cooperação e amor são as palavras chaves deste processo.

Nos propusemos buscar parcerias de Organizações que atuam na área de Educação para a paz e não violência, criando, assim, uma rede internacional de educadores e terapeutas que desenvolverão em suas comunidades educação para a paz e não violência.

Nosso primeiro projeto será a realização do 1º Congresso Internacional de Educação para Paz e Não Violência, em 18-21 de maio de 2023. Nele reuniremos educadores e terapeutas para compartilhar modelos teóricos e práticos de educação para paz e não violência, compartilhar suas experiências e vivências. Mas o mais importante vivenciar nas oficinas o seu próprio ser, conscientizar-se do processo de socialização que passamos e que por mais que não queiramos, nos deixou marcas de medo ao outro e de violência, e trabalhar sobre esses elementos.

O Congresso junto a formação de Mãos para Paz, rede internacional de educação para paz e não violência, será o primeiro passo para uma reflexão e ação de transformação do Mundo, para unir todas as forças que acreditam que o amor superará o medo, que o amor apoiará o medo, transformando a ansiedade em relação ao futuro em ESPERANÇA de um mundo mais humano, um mundo que em vez de termos, SERMOS!

Olá, como podemos te ajudar?